NOSSA MISSÃO

Criar pastores Alemães de estrutura e trabalho no nordeste do Brasil, com exelência, buscando produzir animais com alto nível genético e grande aptidão para o trabalho de proteção, guarda e companhia. Sem no entanto nos afastar-mos da perfeição de estrutura e beleza tão peculiares a esta raça.

Byron Barros

quarta-feira, 28 de julho de 2010

A FIDELIDADE CANINA NO MUNDO DOS HOMENS

No mundo atribulado de hoje, onde temos pouco tempo para pensar e nos
deliciar com as dádivas da natureza, achei por bem reescrever um antigo artigo que
lavrei, lá, por volta dos anos 70 e publiquei no extinto Jornal da Produção, editado
pelo Governo do Estado de Alagoas. Infelizmente é um caso verídico que ouvi do
personagem que o vivenciou, em uma mesa de bar, pessoa que, aqui, tratarei por
Mister X, tendo em vista que, na ocasião do relato fui autorizado a publicar, porém
sem revelar o nome verdadeiro do autor da “proeza”. Como mesa de bar, sempre, foi
um grande saca-rolhas da vida, vamos, lá.
Mister X, havia feito uma grande reforma em sua residência e, por sugestão de
sua esposa, aproveitou para dar uma atualizada naquelas montanhas de papeis que
todos nós guardamos e, com o tempo, nem sabemos mais para que. Aproveitou o
ensejo e junto com os papeis velhos, prateleiras sem uso, cadeiras quebradas e
outras coisa sem serventia, encheu a caçamba de sua caminhonete e rumou para
um terreno baldio. Um matagal que ficava por trás de campo de futebol da Rede
Ferroviária Nacional, nas imediações de onde, hoje, é a Telemar. Ora, já que estava
se livrando de todas as ciosas velhas, porque não se livrar, também da Laika, uma
cadela pastor alemão, com 12 anos dedicados àquela família e que era,
constantemente motivo de discussão entre Mister X e sua esposa?
Assim pensado e assim feito com todo o efusivo beneplácito matrimonial. Lá se
foram Laika e os outros bagulhos que não poderiam permanecer na bela casa pos
reforma. Lembro, como agora, que me mexi na cadeira e tive vontade de fazer
algumas boas, justas, porém atrevidas perguntas a Mister X, mas preferi esperar o
desfecho daquela mórbida história. Ele continuou a sua narrativa. “- Larguei tudo lá e
nem me lembrei de deixar água e comida para a Laika. Queria, mesmo, era ir
embora e evitar que as pessoas que moravam, nos casebres ao largo, impedissem o
meu intento.” Tomei toda a cerveja que estava na caneca, ascendi um cigarro e, só
depois percebi que já havia outro aceso no cinzeiro. Eu era jovem e Mister X bem
mais velho. Pelo respeito que me ensinaram a ter com os mais velhos, fiquei quieto.
A narrativa continuou dando conta de que, uma semana depois, Mister X,
naquele instante, para mim Mister B...., voltou ao mesmo lugar para depositar mais
entulhos e ao se aproximar, Laika levantou-se, caminhou com dificuldades em sua
direção, balançou a calda e morreu. Um dos moradores dos casebres que ficavam
ao largo se aproximou e falou que, por várias vezes, ele e outros moradores,
tentaram dar água e um pouco de comida para a cadela, entretanto, ela não
aceitava. Preferia latir e reagir com a autoridade e o destemor de quem estava ali,
para defender o patrimônio depositado ao léu por seus donos e amados senhores.
Não permitia que ninguém se aproximasse dos entulhos, quer chovendo, quer
fazendo sol. Pobre Laika, não sabia que fazia parte, também daqueles restos inúteis
que foram jogados à própria sorte. Tantos anos de fidelidade, promovendo alegrias e
defesa daquilo que ela, em seu mundo de sinceridade e lealdade plena, entendia
como o seu lar. Foi fiel ate a morte. Guardou os restos de seus donos como se fosse
o mais caro tesouro de todos os tempos e, em seu fim, prestou lhe contas. Pareceu
dizer: “- Meu senhor! Esta de volta? Que alegria! Aqui estão todas as ciosas
deixadas sob minha guarda. Confira. Estão intactas. Missão cumprida. Adeus”.
Meus sentimentos se misturaram entre raiva e pena daquele homem, um
verdadeiro Mister B..... e F P. Levantei-me da cadeira e não sabia bem o que iria
fazer. Sabia, apenas, que meu corpo queria gastar a adrenalina que lhe invadia,
porém seria mais cauteloso ficar longe daquele homem porque ao olhá-lo parecia
que o cenário de toda aquela história lúgubre estava se passando naquele instante e
sobre aquela mesa. Ele era mais velho e, apesar de toda a impetuosidade de minha
juventude, me mantive quieto.
Uma lágrima brotou dos olhos de Mister B...., F P e, de repente, comecei a vê-
lo, outra vez, como Mister X. Com a voz embargada contou aos presentes que,
agora, tinha um sítio em uma cidade do interior do estado e que, lá, abrigava animais
de todas as espécies, feridos, ou abandonados por seus donos. Como a nossa
conversa começou pelo fato de ser eu criador de cães, ele me aconselhou; “ – Nunca
despreze seus animais imprestáveis, ou velhos. Um dia, quem sabe, seus filhos
poderão fazer o mesmo com você”.
Conversamos um pouco mais e, depois de pagarmos as despesas ao garçom
do Bar do Choop, fomos cada um para seu lado, com uma lição aprendida e mais
uma história para contar sobre a fidelidade canina no mundo dos homens.
Wilson Roberto Protásio Lima
Presidente da SACCPA
Presidente do Conselho Superior da SBCPA
Juiz de Criação e Seleção, Nível Internacional
Titular do Canil Castelo de Prata

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